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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

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  Era uma vez um pássaro. Adornando com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto do céu, alegrar quem o observasse.
  Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
  Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
  E sentiu sozinha.
  E pensou: "Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele não mais partirá."
  O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
 Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paizão, e ela mostrava para suas amigas, que comentava: "Mas você é uma pessoa que tem tudo". Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava conquista-lo, foi perdendo o interesse. O pássaro sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher já não prestava mais atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.
  Um belo dia, o pássaro morreu.Ela ficou profundamente triste, e vivia pensando nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
  Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento,e não seu corpo físico.
  Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta. "Por que você veio? perguntou à morte.
  "Para que você possa voar de novo com ele nos céus", respondeu a morte. "Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; entretanto, agora você precisa de mim para poder encontrá-lo de novo."

Trecho retirado do livro: Onze Minutos- Paulo coelho
      Páginas: 201 e 202

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